quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Boa vizinhança

Bom dia de manhã, boa tarde de tarde e boa noite de noite. O que passar daí é ganhar título de simpático na vizinhança. É a carência urbana. Dizem que nas cidades do interior as pessoas ainda se cumprementam na rua, em todos os lugares, enquanto que por aqui nem ao dividir o elevador, nem mesmo nas mesas escassas dos restaurantes às 12h16 da região central se dá um aceno.

A carência urbana está nos supermercados, o comentário de um produto, nas portarias dos prédios, e no metrô. A solidão no meio da multidão, quanto clichê, um pra cada habitante da metrópole. Todo mundo concorda que as pessoas urbanas são mais frias, até mesmo nós, urbanóides, então porque disso tudo? Três dilemas-chave:

1) Se fala de amor, mas não se pratica.
É o que toda pessoa crente no sagrado também repete, é o que todo poeta tenta sobrepujar. Olhando a grama do vizinho, isso acontece porque não sabemos como nem porque ela cresce tão verde assim, e ao invés de perguntarmos o como e por quê, só dizemos bom dia, boa tarde ou boa noite - ah, e nos domingo a tarde xingamos o time dele.

2) A loucura alheia, se entregar a ela ou não?
Todo mundo na cidade é louco, por isso é essa loucura certo? Mas você responde a essa loucura caindo na loucura alheia, ou age do seu próprio e insano modo? por exemplo: se alguém grita com vc no trânsito você vai:
a) ficar quieto;
b) fechar a pessoa, rir dela e depois acelerar, ou;
c) chamar a pessoa pra um sorvete e esfriar a cabeça.
No palco da boa vizinhança temos a guerra fria, com o duelo de malquistar o vizinho e a guerra das oportunidades de aporrinhar, principalmente com músicas aporrinhantes. Aì está o jogo de experimentar a loucura do próximo, subverter a loucura do próximo ou simplismente ignorá-la.

3) Corresponder a simpaticidade do vizinho ou seguir reto?
Você está com pressa, o vizinho não, e ele continua puxando assunto, você dá um passo, ele também (mas ele não estava indo na direção oposta?), hoje não tem jeito, seguir reto. E assim toda semana, até que a fuga um dia se inverte, e é ele quem foge. Vocês até sentem culpa por não se conversarem mais, podem até se perguntar se é essa a vizinhança que querem pros seus filhos crescerem. Mas no final você se aliviam, porque afinal a culpa é da cidade, 'abraço grátis' pro inferno, comece por um bom dia pra cada pessoa da sua rua, do seu caminho, do metrô.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pura realidade, gostei muito!!!!
Não escolhi esse tema, acabei optando por fazer o da mala de viagem, até pq não tenho mesmo o que dizer sobre meus vizinhos, somos meros estranhos dividindo o mesmo corredor e elevador, como diz seu texto apenas nos falamos para trocar cumprimentos por educação e muitas vezes me deixaram falando sozinha...
Mas realmente não podemos culpar a metrópole se nada fazemos para mudar essa situação!!!

Se cuida!!!!
Até mais!!
Letícia