domingo, 30 de novembro de 2008

Convite!

Oi, colegas!

Como vão de domingo?

Vcs curtem boa música e um bom papo? Então, q tal irmos numa aula-show q acontecerá no Sesc Paulista dia 5/12, próxima 6ªf, às 19h30? Parte do flyer do evento eu pus aqui, nao sei se vcs conseguirão ler, mas nesse dia será cantado e comentado Vinícius de Moraes.
Um trecho da divulgação: "o trio Nestrovski-Wisnik-Paula Morenelbaum celebra a arte suprema de Vinicius de Moraes como poeta da canção, modelo do que pode ser a relação entre poesia e música, e da canção como forma de nossa cultura se inventar e se encontrar consigo mesma"
Eu estarei por lá, se conseguir comprar os ingressos ainda.

Os preços são os seguintes: R$ 12 (inteira), R$ 6 (usuário matriculado no Sesc, dependentes, + 60 anos, estudante e prof. da rede pública), R$ 3 (trabalhador no comércio de bens e serviços matriculado no SESC e dependentes)

Quem quiser ir tb, me avisa q eu compro e levo os ingressos na próxima aula; mas precisaria me avisar até no máximo 4ªf à noite, ok?

Ah, sim, o Sesc Paulista fica bem no comecinho da avenida Paulista, ao lado do itaú cultural... facinho de chegar; só descer no metrô brigadeiro. Quem sabe nao é uma boa oportunidade de convivermos fora do ccsp? Ah, sim e tem a comedoria do sesc, um ambiente mto gostoso, com uma vista bem bonita. Podemos depois ir pra lá, tomar um chá e papear!

Bjinhos,
Thaís
(aguardo adesões, heim?)

Javanaise


La javanaise 
(Paroles et Musique: Serge Gainsbourg)


J'avoue j'en ai bavé pas vous
mon amour
avant d'avoir eu vent de vous
mon amour-
ne vous déplaise en dansant la Javanaise
nous nous aimions le temps d'une chanson

a votre avis qu'avons nous vu
de l'amour
de vous a moi vous m'avez eu
mon amour

hélas avril en vain me voue
a l'amour
j'avais envie de voir en vous
cet amour
la vie ne vaut d'être vécue
sans amour
mais c'est vous qui l'avez voulu
mon amour

Ednei, para você que adora as repetições sonoras! Esta música é um clássico dos anos 60!
abs, érica

James Ensor - por Ana





As cidades

Antigamente, as cidades eram espaços urbanos de intensa atividade, promissoras de um futuro moderno repleto de tecnologias facilitadoras da vida para todos.

A propaganda das benesses da vida moderna é algo que até hoje, no nosso tempo pos moderno, dito contemporâneo, insiste em querer encantar uma ideologia que nada tem de encantadora. É triste e chato demais falar a real de verdade, mas qual verdade ? A sua, a minha ? De que prisma ? Por qual viés ?  A partir de qual referencial nesse mundo multifacetado, plural, palimpsesto, com identidades híbridas, transbordando fragmentos de significações subjetivas, dentro de uma homogeneicização controlada mas simultaneamente transversal, buscando redefinições imagéticas, virtuais e espaciais......Ufa !


Well, num tempo em que as representações eram possíveis, as máscaras eram visíveis, o espaço urbano era reconhecível, a normalidade era previsível ?

A vida podia ser mais regrada,mas havia conflitos não ? Expectativas.... sonhos, obstáculos, medos, nepotismos de toda ordem, mas também amabilidades, sim ?

Quanto custava um prazer ? Normal ou anormal ?


Hoje tudo é normal, a espetacularização do normal, do banal, do carnal, do mortal, do portal, do bacanal......(p/ lembrar uma expressão p/lá de antiga) entre todas as fronteiras, iguala, desmobiliza. Nada mais estranha........ Será ? Será possível que nada mais causa estranhamento ?!!!!! Será que estamos todos anestesiados pela programação da super tela ??!! Nos contentamos em rir e gozar, admirar e contemplar todo o universo mágico, especialmente criado para você, para os habitantes das cidades, metrópoles e magalópoles de todos os continentes ?!

 Depois de um dia cansativo de labuta, trabalho diário árduo, chegar em casa e assistir a TV plasma último tipo, escolher entre os 203 canais da rede internacional, ou colocar um DVD último lançamento e ligar, se embriagar e se desligar de tudo que te enche a cabeça, de tudo que o mundo te pede, te solicita, te lembra.......

Não, não posso acreditar nesse discurso babaca da pos modernidade onde tudo já foi transgredido, temos notícia de tudo o que acontece no mundo em tempo real e corremos atrás de um gozo profundo em meio às maravilhas das ilhas de Dubai. Não posso crer.

Uma cidade negada, invisível, carcomida, humilhada, castigada está viva ou apenas sucumbe ?


Será que vivemos apenas uma dicotomia? O discurso e a vida real?  a second life ? Onde está toda a complexidade transbordante dos espaços híbridos multifacetados das megalópoles ?

Hábitos, habitantes, aparente desordem cotidiana circulando em movimentos transnacionais, onde estão vocês ??  

Viajante, caminhante, andarilho, adelante......sim, estou vendo lá na frente !!!!!

Estamos nos vendo de novo, olhares cruzados, emaranhados..... e em cada nó um encontro..... cheio, repleto de possibilidades.....potencialidades.....desejos, pulsões de vida e de morte. Motor ligado ! O combustível original ainda persiste, ele vive em cada ser, habitante de um ninho, uma casa, um prédio, um barraco, um abrigo, banco, praça, avião, carro, mar, barco, tenda, igloo, oca, trem, navio, torre, cabana, espaços........

Cartografias possíveis para mapas invisíveis ou risíveis, dentro de uma esfera complexa, multifacetada da polis trans ocupada por alucinados seres imaginativos, produtores de uma concretude de difícil digestão. Natureza estranha...... ela que tudo transforma em silencio começa a se mexer e dizer palavras ainda incompreensíveis porém tocantes e avassaladoras.

Estranho, mas o trabalho da natureza foi alterado e tem gente que ainda não se deu conta.....isto é muito estranho não, curioso, não temeroso, não perigoso, sim..... Viver é deliciosamente perigoso. Como dizia o poeta, a vida não tem solução. É p/ ser vivida, saboreada, compartilhada, experimentada afinal, somos todos multi, pluri, trans, poli, terrivelmente imersos nessa equação transitória, ambígua e permanentemente insólita.


Qual sua cidade preferida ? ou desejada ? ou perseguida ? Que tal conversarmos mais sobre tantas possibilidades........


Existem cidades azuis, amarelas, verdes........ cada uma tem um cheiro que as vezes acompanha uma cor que nem sempre coincidem e isso é que é interessante, ou mesmo surpreendente. Por que sabe, o marrom pode te lembrar chocolate, mas pode lembrar madeira, montanha de pedra, barro, rio lamacento, sem falar naquele  outro barro...., mas o lodo por exemplo, tem de várias cores. Tem o lodo do mangue que é muito louco porque além de cor ele tem formas incríveis, galhos e hastes cumpridas que saem do nada e tem um cheiro estranhíssimo, acho que é uma das coisas da natureza mais maluca de se descrever porque são demais..... tem mangues diferentes, não só do mar, tem lodo de mangue de rio , aham ! completamente diferente e o cheiro é outro, mas eu não sei porque eu to falando de mangue, não entendo nada disso, só sei que são fundamentais a vida, berçários na verdade, criadouros, acho que é por isso que me interessam, por sua infinita capacidade de renovação, aliás não é bem isso, eles são lugares frágeis e compostos, são um ambiente rico de nutrientes para dar conta de várias espécies de vida da fauna e da flora. Puxa devia ter feito biologia é fascinante a diversidade dos seres e das bios dos meios  das massas recheadas ......hum que fome, preciso parar de pensar em alimento porque vida precisa de alimento o tempo todo, é em função do alimento que as primeiras populações se locomoveram, acabou aqui tem que procurar ali e ai vai embora......por isso é que as cidades tem cores diferentes, alimentos típicos, próprios da vegetação do local, da temperatura...... em matéria de vinho eu nasci no lugar errado, mas o clima eu num troco. Acho que to com saudade da praia, vontade de sentir cheiro de mar, ver verde, céu aberto e muito vento na cara. Um peixinho frito que ninguém é de ferro, e azul, acho que a praia é azul, embora no deserto tudo é areia o céu é algo enorme e também azul, eu adoro o laranja nesse contexto de azul sabe ?  e adoro a imensidão, esses lugares que não terminam nunca, a gente passa por eles e fica pensando como será viver numa vastidão sem fim, com mudanças de cor o tempo todo, com pequenos animais ariscos, coloridos, ruidosos e ventos com sonoridade própria, um mundo inteiro para ser desvendado e compreendido, porque nós urbanóides, totalmente saturados de todas as complexidades possíveis, piramos só em imaginar viver num deserto, ou numa chapada brasileira mesmo, com tantas informações surpreendentes, que dá para escrever muito, pensar e respirar outros tantos mundos, né Raimundo !!  Mas o bonito mesmo é misturar tudo, um bocadinho de cada coisa gostosa de cada lugar, com estradinhas e caminhos para outros confins que serão e darão para outros fins, infinitamente........


Ana

Cidade / Convívio / Espaço / Urbanidade

Representação da desordem. A fragmentação da identidade cotidiana circula, conforme a concentração da territorialidade cúmplice da metrópolle multifacetada que transborda redefinições homogeneicizadoras. O controle da memória em movimento, mercantiliza as transversalidades dos habitantes contemporaneos.
Mapas, geografias invisíveis, percursos, sujeitos. Incorporação das almas urbanas heterodoxas, dissidentes, mentes em cruzamentos metonímicos. Complexidades transnacionais.
Como fronteiras transgressoras, as antigas vanguardas assistem a tudo com seu estranhamento estático.
Permanentemente transgressores, os marginalizados insistem perante o colapso dos sentidos imagéticos e cibernéticos, que prosseguem conectados ao enriquecimento dos valores hierárquicos.
A cidade - construção pública da privatização do espaço - é alucinação agonizante ou possibilidade de convívio reiventado ?

Ana

Poema Imbrífero


Incrustações


Inútil o que eu incrusto na cútis

O cruor

Circula nas vias do incurso

Maneiras sutis

Dá vida ao asfalto

Esse que asfixia

Fixa o instável que chia

Hiante alto

Bueiro engole Híade

Que fica com seis estrelas

Moças e velhas

Um díade

Dia da díastase

Qualquer fluido

Oligopsia do adido

Antes díastole

Tolo toldo

Logo o lodo

O logro

Lombada confundida com lombo

Rua crua

Janelas paralelas

Amarelas palpadelas

Parece Lua.


Ednei Pereira Rodrigues

sábado, 29 de novembro de 2008

RESPONDA THAIS MATSUMOTO!!!!

Saudades de minhas rimas?

Thais,gostei muito da poesia que tu escreveu para a foto de meu avó,poderia publica-lá aqui,para elas entrarem em confronto,a sua e a minha rsrsrsrs bjssss

A imagem do som

Reagem contra o silêncio
Um violino cheio de grima
Com seu arco de crina
Nitria por nitrogênio
“A morte nivela todos os homens”
Aqui jaz o jazz
Seguia Séguier
Semifusas que intervéns
Semínimas com fiúza da música que sobreviveu
Nos fiúsas long-plays
Longeva placidez
Plangente escarcéu
O ouvido Ovidiano
Ouriça e causa ourama
Ouça a ouça
Atença atenção
A orelha com gelha
A relha
Por influência de Van Gog
Ototomia aconselha.

Ednei Pereira Rodrigues

Não sou de fazer isso,mas sei lá porque resolvi fazer nessa,NÃO
SE ACOSTUMEM!!!!
Glosas: Sobre a frase na 5 linha:“A morte nivela todos os homens” frase de Pierre Séguier (1588 - 1642) foi um nobre francês. Um dos homens mais poderosos de seu tempo, ocupou o cargo de Chanceler de França.
Ovidiano: de Ovídio,Publius Ovidius Naso (Sulmo, 20 de março de 43 a.C.Tomis, 17) foi um poeta latino, é mais conhecido nos países de língua portuguesa por Ovídio.
Vivia uma vida boêmia, sendo admirado como um grande poeta. No ano 8, foi banido de Roma pelo imperador Augusto por causa de seu livro A Arte de Amar (Ars Amatoria), considerada imoral por Otávio Augusto, o que lhe causou um profundo desgosto até o final de sua vida. Foi nessa época que Ovídio escreveu a sua obra mais famosa: Metamorfoses
fiúza e fíusas não são erros de digitação ou neologismos são PARÔNIMOS!!!!o resto não vou traduzir...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

um texto fresquinho pra vocês

Turma, são 5:51 da manha de sábado e eu sei que nenhuma pessoa com o mínimo de sanidade posta nada essa hora, mas fazer o que,esse texto simplesmente saiu, digo, é óbvio que ele teve algumas influencias básicas, ou quem sabe até motivos, mas isso é irrelevante para vocês, o legal é que conforme eu fui escrevendo ele foi tomando forma, então eu meio que me apropriei de um mito, mudei, transformei em fábula, não sei mais o que, e me lembrou muito a ultima aula e de certa forma até o dicionário de verbetes imaginários, então to postando ele pra vocês, espero que gostem e que comentem ^^
P.S. Eu nem passei o revisou de texto, se errei alguma coisa muito feio a culpa é do horário....


" Apenas mais uma história para dormir"


- , me conta uma história?
- Conto sim, que tipo de história você quer Aninha?
- A , eu quero uma de amor...
- Tudo bem, tudo bem, eu conto uma de amor pra você, e essa é uma das mais antigas que eu conheço:
O corpo movia-se lentamente, em um movimento quase cíclico, conhecido, mas não rotineiro, digno de um dançarino profissional, e a borboleta, como que acompanhante, dama, dançante, seguia o movimento em seu exato oposto, como uma réplica, como o outro lado de um espelho invisível, imitando a suavidade dos gestos.
Assim como Apolo e Diana antes do primeiro eclipse das eras, seu encontro parecia relutante, impossível, e sua eterna dança forçada a repetir aqueles segundos mágicos sem entretanto nunca se encontrarem para chegar ao apogeu do espetáculo. Mas efêmeros em preocupações, ambos, homem e borboleta seguiam seu ritmo marcado ao som da doce melodia das horas.
Breve, mas não ansiosamente esperado, o Sol limpou do céu as estrelas coadjuvantes e invejoso raiou seu dia para os homens, mas homens, tolos e sábios apaixonaram-se pelo impossível e encantados esperavam a esperança de seus conflitos nascerem do improvável toque do homem com a borboleta. E foi com calor no coração que os homens então voltaram para suas famílias aquele dia.
Mas o homem da borboleta não voltou, e não sentiu a queda da temperatura. Seu olhar se encontrava distante, mais distante do que qualquer outro olhar do homem já havia estado e ainda assim o que mirava estava a poucos centímetros de seu rosto, a beleza. Ele mirava a beleza da borboleta e a cada novo relance captado apaixonava-se novamente, incansavelmente e prosseguia a dança, dia após dia.
Houve tempo em que até os animais detinham-se para ver o espetáculo, espantados em ver aquela dança, bela, provocante, e brincavam com a idéia do possível alem do imaginável, e eles também se sentiam em parte dançarinos, leves e belos, a bailar com suas vidas e desejos, encontrando inspiração para seus instintos e melodia para o seu viver.
Invejoso da beleza que inspiravam na sua dança, Apolo uma noite aproximou-se do homem e lhe sussurrou, quase tão devagar quanto os movimentos da dança que tentava interromper:
- Vede tua borboleta Icáro, vede como ela tem marcas em suas asas, como se fossem as cicatrizes de um antigo ferimento, vede como ela perde o brilho quando não refletida na luz da lua, vede que sois para ela nada mais que mais um humano. Queres ela tanto assim? Tome-a, segure-a em tuas mãos e não deixe com que nunca mais voe.
Mas Icáro nem por um momento alterou sua dança e ignorou as advertências do ciumento Deus Sol, que insatisfeito transformou-se em um pássaro e na língua dos seres alados foi então ter com a borboleta:
- Amiga de asa, que fazes aqui junto a esse humano? Você já andou com humanos antes lembra-se, foi assim que conseguiu essas horríveis cicatrizes. Porque não faz como eu que sou livre e belo, e livre-se dessa dor e desses homens.
E a borboleta sentiu o peso das verdades que o Deus disfarçado havia lhe dito e lembrou-se de um passado não tão distante, onde da mesma forma se aproximara de um humano que lhe prometera tudo pelos olhos, mas que com as mãos havia ferido tão profundamente suas asas, e por um momento a tristeza ocupou seu coração, e vendo isso os olhos do pássaro - apolo brilharam mais forte.
Uma nuvem de chuva se formou sobre os dançarinos e com o peso das memórias da borboleta pesadas lágrimas de chuva despencaram do céu enegrecido criado pelo perverso Deus. A borboleta assustada então fugiu na vastidão do infinito. Fugiu por horas da chuva e por dias do homem, que ignorante de sua história continuava a dançar na esperança de que quando a chuva cessasse voltaria a vê-la.
A dor, tanto nos homens quanto nos bichos não é fácil de se tratar, de se curar e a borboleta sentia isso a cada dia que passava separada de seu homem e de sua dança, perdida nas horas silenciosas da solidão, vagando de oásis em oásis em busca da paz que deixara lá com o homem na hora em que decidiu fugir, e foi num desses oásis que um bondoso riacho falou á borboleta:
- Tu tens belas cores borboletinha e mais encantos nessas duas asas que eu em toda a minha extensão, mas sou mais feliz que ti porque sigo meu destino em rumo ao mar enquanto você foge do teu destino e da tua dança só porque o medo assim te aconselhou. Nunca ouviste borboletinha que o medo é um mau conselheiro? Nunca reparaste que depois do caminho de espinhos é que a beleza da rosa aparece? Tu talvez não assim o saiba, mas teu homem, inconsolável homem,que dançou a tua espera por dias até que a fome lhe tolheu o espírito, sabe dessas verdades, e em busca de ti pediu emprestado o meu das abelhas e as penas dos pássaros para fabricar para si, pobre criatura, asas, e agora alça vôo entre os alados para te procurar.
Enquanto isso Icáro em suas asas já havia percorrido com os olhos até o horizonte e voltado, e não encontrando sua intocada companheira angustiava-se demasiadamente. Seus pensamentos eram sombrios e os conselhos do medo novamente se fizeram ouvir nessa triste história. Agora ele estava determinado que a busca por sua borboletinha valia mais que qualquer outro risco que já correra e, esquecendo-se, ou fingindo esquecer-se das recomendações do pai, partiu em direção ao Deus Sol a fim de inqueri-lo sobre o paradeiro de sua pequena amada.
A partir de agora a história tem vários finais, todos tão possíveis quanto a história em si, mas gosto de acreditar que a borboletinha começou a sentir um pouco do que o homem sentia por ela, e vendo a desengonçada figura dele voar no horizonte canalizou toda a dor que sentia para as pequenas asas, e vencendo a barreira do medo atingiu o homem justamente no momento em que suas asas começaram a derreter.
Desesperada a borboletinha pranteou a pele já meio queimada de Icáro e sua queda eminente e num misto de raiva e dor gritou em sua direção em uma língua híbrida, tanto humana quanto dos bichos para que pudesse entender: - Tolo! Porque fizeste isso???
E enquanto caia o humano respondeu:- Porque eu queria te ver.

- E é assim que a história acaba ?
- A maioria das pessoas diz que sim Aninha, mas eu acredito em outra coisa... Eu acredito que enquanto ele caia, a Deusa Athena se apiedou dele e colocando os dois no chão, curou-lhes as feridas e transformou a borboleta em uma linda mulher, e quando acordaram, Icáro reconheceu no corpo da mulher sua borboletinha e ela por sua vez reconheceu a ele.
- E eles viveram felizes para sempre?
- Bom aninha, isso eu já não sei. Você tem que entender que finais felizes não vem prontos, mas são construídos no dia a dia. Mas eu me lembro da expressão no rosto de Icáro enquanto ele se perdia nos olhos escuros daquela mulher borboleta e era mais bonito que a dança porque dessa vez eles enfim se tocaram, e se o que eu vi aquele dia continua até hoje, bem, então eles são felizes para sempre...
- Você tava?- Tava Aninha, mais isso é outra história...


Will.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bons Amigos

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir. Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende. Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar. Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende. Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar. Porque amigo sofre e chora. Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade. Porque amigo é a direção. Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros. Porque amigos são herdeiros da real sagacidade. Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

Machado de Assis

Pessoal,

aqui está apenas uma parte de agradecimento de todas essas 5ºfeiras que passamos juntos, demos risadas, conhecemos um pouco mais o ser humano, o que podemos agregar de cada um como "roupas suicidas", "ainda existe homem romântico no mundo", "isso é uma prosa, né Maysa!" "casal, homem-mulher, esposo-amante, amante-esposa...que confusão!" "as palavras dificieis do Ednei rs!!-cultura 100%" "MST - não pode ser!!!"entre outros momentos que compartilhamos juntos.

Amei poder fazer parte dessa equipe e desejo encontralos mais vezes, um ponto que levanto e carrego a bandeira é de ter essa oficina parte 2, de podermos nos rever as 5ºfeiras de novo, com novos temas e talves novos agregados rs, mas os antigos continuando. Outra bandeira é de continuarmos postando mesmo quando as aulas acabarem.......esse é nosso ponto de encontro, então devemos voltar sempre e postar e comentar POR FAVOR hein!!!!!!!!!!!

Obrigada pelo conhecimento agregado.

Beijos a todos.

Amandinha

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

lápis vermelho

1. Lápis de cor vermelho. Bastão cilíndrico ou paralelepípedico com o centro de grafite e pigmento vermelho, utilizado para grafar superfícies com a cor vermelha. 2. Texto que aspiram e inspiram sentimentos, do belo e visceral. Escrito a lápis vermelho. 3. Código secreto em algumas sociedades para textos da Maysa.



terça-feira, 18 de novembro de 2008

clichês para São Paulo

São Paulo dos caros prazeres
em desvarios, paulicéia fez-se,
em homenagem aos que
sem-teto abriga,
como mátria desvalida.

Caos-óticas-urbanas,
transe em trânsito frenético,
entre roncos de motores
e metálicos sinistros,
soam vozes em dissabores.

Contrastes nos rodeiam,
paradoxos sem-tidos,
bela e feia, com certeza,
amo-a e odeio.

Sônia Imenes

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fim da guerra no Iraque!

Pessoal, como no último encontro discutíamos sobre notícias e suas fabulosidades, achei interessante o que esse grupo fez em Nova Iorque:
http://www.abril.com.br/noticias/diversao/grupo-falsifica-new-york-times-anuncia-fim-guerra-iraque-178653.shtml


Abraço a todos e até semana que vem!

domingo, 16 de novembro de 2008

#2

That's all
Maysa

É GOOOOOOOOL

sábado, 15 de novembro de 2008

Bonjour mon amis!

E ai pessoal, tudo bem? Já com saudades? rsrsrs
Tava pensando, super chato esse lance de não ter aula nessa quinta... deviamos fazer algo já que é feriado mesmo né???
Alias, porque a gente não faz? Vamos postar sugestões do que fazer até terça feira e depois decidimos, quem sabe não rola algo???
De qualquer forma, na quarta feira dia 19 vai ter um evento de um amigo meu na livraria Cultura, ali no conjunto nacional (Paulista, pra quem anda de metro fica super facil)e é a noite e, pra completar eu vou estar lá... assistindo claro, sem nenhuma participação, mas mesmo assim estarei... quem quer ir junto???
O link do evento segue abaixo... sei que talvez nem todos gostem da tematica, mas o pessoal que vai dar o workshop é muito legal e em sua maioria todos escritores - caso isso faça alguma diferença...
http://cantodooraculo.files.wordpress.com/2008/11/conv02.jpg
Vejo vocês lá e/ou em qualquer outro lugar que for sugerido
Abraços a todos e continuem a comentar hein... tem um monte de post sem comentário ainda.
Will.

SUGESTÕES


Pessoal,como semana que vem não vai ter,então tomei a liberdade de sugerir alguns temas para serem feitos,virtual mesmo,ou nós fazemos em casa,depois levamos lá no dia????como o tempo da aula e curto,então poderiamos discutir por aqui mesmo.Abraço à todos Ednei


1 tema:Não vai ser discutido o DADAÍSMO?nesta oficina???ainda não ouvi os professores dizerem nada a respeito! ou será que estou ficando surdo?por isso essa oficina deve ser prolongada,para debulharmos está nossa vasta literatura.

Lendo sobre Tristan Tzara,acho que seria interessante, discutirmos sobre o DADAÍSMO,vamos ao tema então: FAZER UM POEMA DADAÍSTA
Pegue num jornal.Pegue numa tesoura.Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema.Recorte o artigo.Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco.Agite suavemente.Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros.Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco.O poema parecer-se-á consigo.E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.


2 tema mórbido,inspirado por Baudelaire: O que você escreveria em sua lápide?(detalhe da foto: Túmulo de Baudelaire, o que será que está escrito lá?alguma poesia????

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Recado ao Senhor 903 - Rubem Braga

Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.

...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.


A crônica que foi comentada em sala pelo - se me permite - Professor Danilo.
realmente muito boa!

:D

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Video sobre a construção da beleza

Gente, estou postando o link do video que comentei em sala, já que por algum motivo não consigo postar ele direto aqui. Ele tem só um minuto e realmente vale a pena dar uma olhada.
Abraços a todos
Will.

http://br.youtube.com/watch?v=oPyINkDU9rA

aula 04 (excertos)

O sentimento dum ocidental - Cesário Verde

A Guerra Junqueiro


I - AVE-MARIA

Nas nossas ruas, ao anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.


O céu parece baixo e de neblina,

O gás extravasado enjoa-me, perturba;

E os edifícios, com as chaminés, e a turba

Toldam-se duma cor monótona e londrina.


Batem os carros de aluguer, ao fundo,

Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!

Ocorrem-me em revista exposições, países:

Madri, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!


Semelham-se a gaiolas, com viveiros,

As edificações somente emadeiradas:

Como morcegos, ao cair das badaladas,

Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.


Voltam os calafates, aos magotes,

De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;

Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,

Ou erro pelos cais a que se atracam botes.


E evoco, então, as crônicas navais:

Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!

Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!

Singram soberbas naus que eu não verei jamais!


E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!

De um couraçado inglês vogam os escaleres;

E em terra num tinir de louças e talheres

Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.


Num trem de praça arengam dois dentistas;

Um trôpego arlequim braceja numas andas;

Os querubins do lar flutuam nas varandas;

Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!


Vazam-se por arsenais e as oficinas;

Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;

E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,

Correndo com firmeza, assomam as varinas.


Vêm sacudindo as ancas opulentas!

Seus troncos varonis recordam-me pilastras;

E algumas, à cabeça, embalam nas canastras

Os filhos que depois naufragam nas tormentas.


Descalças! Nas descargas de carvão,

Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;

E apinham-se num bairro aonde miam gatas,

E o peixe podre gera os focos de infecção!


II - NOITE FECHADA

Toca-se às grades, nas cadeias. Som

Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!

O aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,

Bem raramente encerra uma mulher de “dom”!


E eu desconfio, até, de um aneurisma

Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;

À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,

Chora-me o coração que se enche e que se abisma.


A espaços, iluminam-se os andares,

E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos

Alastram em lençol os seus reflexos brancos;

E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.


Duas igrejas, num saudoso largo,

Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:

Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,

Assim que pela História eu me aventuro e alargo.


Na parte que abateu no terremoto,

Muram-me as construções retas, iguais, crescidas,

Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,

E os sinos dum tanger monástico e devoto.


Mas, num recinto público e vulgar,

Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,

Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,

Um épico doutrora ascende, num pilar!


E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,

Nesta acumulação de corpos enfezados;

Sombrios e espectrais recolhem os soldados;

Inflama-se um palácio em face de um casebre.


Partem patrulhas de cavalaria

Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:

Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,

Derramam-se por toda a capital, que esfria.


Triste cidade! Eu temo que me avives

Uma paixão defunta! Ao lampiões distantes,

Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,

Curvadas a sorrir às montras dos ourives.


E mais: as costureiras, as floristas

Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;

Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos

E muitas delas são comparsas ou coristas.


E eu, de luneta de uma lente só,

Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:

Entro na brasserie; às mesas de emigrados,

Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.


III - AO GÁS

E saio. A noite pesa, esmaga. Nos

Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.

Ó moles hospitais! Sai das embocaduras

Um sopro que arrepia os ombros quase nus.


Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso

Ver círios laterais, ver filas de capelas,

Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,

Em uma catedral de um comprimento imenso.


As burguesinhas do Catolicismo

Resvalam pelo chão minado pelos canos;

E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,

As freiras que os jejuns matavam de histerismo.


Num cuteleiro, de avental, ao torno,

Um forjador maneja um malho, rubramente;

E de uma padaria exala-se, inda quente,

Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.


E eu que medito um livro que exacerbe,

Quisera que o real e a análise mo dessem;

Casas de confecções e modas resplandecem;

Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.


Longas descidas! Não poder pintar

Com versos magistrais, salubres e sinceros,

A esguia difusão dos vossos reverberos,

E a vossa palidez romântica e lunar!


Que grande cobra, a lúbrica pessoa,

Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!

Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,

Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.


E aquela velha, de bandós! Por vezes,

A sua traîne imita um leque antigo, aberto,

Nas barras verticais, as duas tintas. Perto,

Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.


Desdobram-se tecidos estrangeiros;

Plantas ornamentais secam nos mostradores;

Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,

E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.


Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes

Os candelabros,como estrelas, pouco a pouco;

Da solidão regouga um cauteleiro rouco;

Tomam-se mausoléus as armações fulgentes.


Dó da miséria!... Compaixão de mim!...”

E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,

Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,

Meu velho professor nas aulas de Latim?


IV - HORAS MORTAS

O teto fundo de oxigênio, de ar,

Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;

Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,

Enleva-se a quimera azul de transmigrar.


Por baixo, que portões! Que arruamentos!

Um parafuso cai nas lajes, às escuras:

Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,

E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.


E eu sigo, como as linhas de uma pauta

A dupla correnteza augusta das fachadas;

Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,

As notas pastoris de uma longínqua flauta.


Se eu não morresse, nunca! E eternamente

Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!

Esqueço-me a prever castíssimas esposas,

Que aninhem em mansões de vidro transparente!


Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,

Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!

Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,

Numas habitações translúcidas e frágeis.


Ah! Como a raça ruiva do porvir,

E as frotas dos avós, e os nômadas ardentes,

Nós vamos explorar todos os continentes

E pelas vastidões aquáticas seguir!


Mas se vivemos, os emparedados,

Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...

Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas

E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.


E nestes nebulosos corredores

Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;

Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,

Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.


Eu não receio, todavia, os roubos;

Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;

E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,

Amareladamente, os cães parecem lobos.


E os guardas, que revistam as escadas,

Caminham de lanterna e servem de chaveiros;

Por cima, os imorais, nos seus roupões ligeiros,

Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.


E, enorme, nesta massa irregular

De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,

A Dor humana busca os amplos horizontes,

E tem marés, de fel, como um sinistro mar!


À une passante - Charles Baudelaire

La rue assourdissante autour de moi hurlait.

Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,

Une femme passa, d’une main fastueuse

Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;


Agile et noble, avec sa jambe de statue.

Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,

Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan,

La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.


Un éclair... puis la nuit! - Fugitive beauté

Dont le regard m’a fait soudainement renaitre,

Ne te verrai-je plus que dans l’éternité?


Ailleurs; bien loin d’ici! Trop tard!Jamais peut-être!

Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,

O toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!


A uma passante - trad. Paulo Menezes

A rua em derredor era um ruído incomum, 
longa, magra, de luto e na dor majestosa, 
Uma mulher passou e com a mão faustosa 
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata. 
Eu bebia perdido em minha crispação 
No seu olhar, céu que germina o furacão, 
A doçura que embala o frenesi que mata.

Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade, 
E cujo olhar me fez renascer de repente, 
So te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente! 
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais, 
Tu que eu teria amado — e o sabias demais


A uma passante - trad. Marco Antonio Frangiotti

A rua ensurdecedora ao redor de mim agoniza.

Longa, delgada, em grande luto, dor majestosa,

Uma mulher passa, de uma mão faustosa,

Soerguendo-se, balançando o festão e a bainha;


Ágil e nobre, com sua perna de estátua.

Eu, embevecido, inquieto como um extravagante,

Em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão,

A doçura que fascina e o prazer que destrói.


Um clarão... depois a noite! - Beleza fugidia

Cujo olhar me faz subitamente renascer,

Não te verei senão na eternidade?


Alhures; bem longe daqui! Muito tarde! Jamais talvez!

Pois ignoro onde tu foste, tu não sabes onde vou,

Ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!


A UMA PASSANTE PÓS-BAUDELAIRIANA - Carlito Azevedo

2ª versão (1995)


1.

sobre

esta pele branca

um calígrafo oriental

teria gravado sua escrita

luminosa

— sem esquecer entanto

a boca: um

ícone em rubro

tornando mais fogo

suor e susto,

tornando mais ácida e

insana a sede

(sede de dilúvio)


2.


talvez um

poeta afogado num

danúbio imaginário dissesse

que seus olhos são duas

machadinhas de jade escavando o

constelário noturno:

a partir do que comporia

duzentas odes cromáticas

— mas eu que venero (mais que o ouro-verde

raríssimo) o marfim em

alta-alvura de teu andar em

desmesura sobre uma passarela de

relâmpagos súbitos, sei que

tua pele pálida de papel

pede palavras

de luz


3.

algum

mozárabe ou andaluz

decerto te dedicaria um

concerto

para guitarras mouriscas

e cimitarras suicidas

(mas eu te dedico quando passas


no istmo de mim a isto


este tiroteio de silêncios

esta salva de arrepios)