sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Canela" (Minha Des[dis]crição)



Lá menor em leves golpes. Vem devagar e acrescendo num tom cortante. O lá menor parece triste e misterioso. Logo alterna com sua forma sustenida, n’um vai e vem inebriante, fazendo esquecer sua forma triste e incita ao mistério e voluptuosidade.
Lá menor e mi, num ritmo quebrado. O mi, que é grave e sensual, parece acalentar o lá menor, embalando ainda mais o ritmo, como um nobre cavalheiro. O casal de notas ameniza o caos no braço do violão vermelho.
A madeira rubra, antiga e gasta, treme retumbando cada nota que os dedos abocanham nas seis cordas. Deslizam nas suas dezenove casas, também gastas pelo tempo. Se tal seqüência de notas tivesse um cheiro, este seria agridoce, como os condimentos do oriente médio.
O ritmo acelera. Palmas e sapateados cruzam-se, misturando-se com o cheiro das flores de canela e essências excêntricas, que são queimadas em lâmpadas de azeite. Os vestidos vermelhos de várias camadas rodopiam, e vez ou outra são carregados de um lado para o outro pelas mãos de quem os veste. Mãos com unhas afogueadas.
Os pés continuam batendo no assoalho de madeira com firmeza, ecoando ao longo da grande sala, marcando cada contratempo com precisão. Pés e mãos em harmonia giram e contornam formas sutis no ar, enquanto o ritmo quebra e volta à tona, rasgando os ares andaluzos. Subitamente a música pára, e os vestidos derramam-se pelo chão lentamente, conforme os corpos vão se deitando em cima das próprias pernas, em movimentos ternos.


(Felipe)

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Pessoal, vamos usar das "tags" (marcadores) para deixar tudo mais organizado, colocando ali em baixo as palavras principais (ou idéias) do texto. E vamos postar também!
Abraços!

Um comentário:

Amandinha disse...

Nossa Fe, ficou muito bonito o seu texto.
Parab´nes!!!
Vc escreve com tal leveza e precisao que parecemos estar na cena!!!
Continue assim quero ver mais posts seu por aqui!
Bjus